5 de dez. de 2015

Tempos de TV Brasil Central: Fórmula 3 e os "botes" de Cascavel

O argentino Nestor Furlán recebe a bandeirada da vitória no GP do Rio,
sagrando-se campeão da temporada de 1989
Ano de 1989. Campeonato Sul-americano de Fórmula 3, etapa de Cascavel, Paraná. Era um sábado. O meu voo desceu em Foz do Iguaçu. Ali mesmo no aeroporto aluguei o único carro que restava na locadora – um fusca, com aquela faixa preta cruzando o teto (lembrava os fuscas da frota do Bamerindus). Volante duro, resultado de uma batida.

Demorei hora para chegar a Cascavel. Direto para o Hotel Deville.  Malas no quarto e rumei para o autódromo, palco da corrida. Equipes em preparativos. Christian Fittipaldi, aos 18 anos, era a atração – estreava na modalidade, com  o pai Wilsinho comandando o time.

Eu dirigia o jornalismo da TV Brasil Central e era, também, narrador  esportivo – de futebol ao jogo de boliche, passando pelo vôlei, basquete, futsal, automobilismo etc.. Fernando Campos, o meu comentarista, estava ali desde sexta, em companhia da mulher, Marlene. Foram curtir as Cataratas.

Domingo, a prova seria às 13 horas. Chegamos ao autódromo às 10 e fomos pegos no contrapé. Simplesmente, a empresa de telefonia responsável não havia instalado terminais para que pudéssemos fazer a transmissão. Mostrei ao encarregado o pedido feito com um mês de antecedência e aí começou o tal liga pra cá, liga pra lá.

Como a burocracia acabaria tomando o tempo, sugeri a ele que nos cedesse a linha de um dos orelhões ali existentes, o que resolveria, parcialmente, o problema. Falaríamos, mas não teríamos retorno, ou seja, não ouviríamos qualquer chamado dos estúdios.

A linha foi colocada sobre os boxes. Ao meu lado, um pequeno (e barulhento) gerador a diesel da Rádio Belgrano,  de Buenos Aires.  Coloquei o monitor de TV dentro de uma caixa de papelão, escurecendo a tela para poder enxergar a imagem.

Resolvemos o problema do retorno graças ao desprendimento do nosso gerente da TV, Lourenço Tomazetti, com quem eu conversava durante os comerciais e que dava a deixa para as minhas entradas.

Alencar Júnior, nosso grande campeão de Stock-Car, estava na F3 e era um dos destaques da prova, juntamente com outros brasileiros, além de Christian, casos do Leonel Friedrich, Pedro Muffato, César Bocão Pegoraro, dentre outros.

O argentino Nestor Gabriel Forlán venceu a prova – e foi o campeão da temporada, com 57 pontos, seguido por Leonel Friedrich, com 54.

Que domingo aquele! Um calor de 40 graus, fumaça do gerador dos argentinos a incomodar, sentamos sobre a laje com as pernas cruzadas que, duas horas depois, não mais queriam se descruzar. Nos ajudou no trabalho o enviado especial de O Popular, Donizete Araújo,  trazendo as informações dos bastidores.


A transmissão foi perfeita, ainda que com os problemas que enfrentamos. Registro aqui estas memórias em reverência aos talentos dos meus companheiros de trabalho. Em especial, Fernando Campos, “doutor” em automobilismo; Lourenço Tomazetti, com quem participei da realização de grandes eventos, e à equipe técnica da TBC. Temos ali grandes profissionais, infelizmente não valorizados pelos badamecos políticos que passam pelo comando do ex-CERNE, hoje Agência Brasil Central, sem nenhum compromisso com a casa.