22 de mai. de 2015

A revolta da vacina


Deixa eu voltar ao papo sobre o Oswaldo Cruz. A última batalha dele foi contra a varíola. Ela assolava a velha cidade do Rio. Doença muito contagiosa, matava ou deixava cicatrizes. Por conta disso, o nosso médico sanitarista decidiu que a vacina teria que ser obrigatória. Questão de vida ou morte. 

Assim, candidatos a cargos ou funções públicas, pessoas que pretendiam se casar, viajar e até se matricular em escolas, só o conseguiriam com o atestado de vacina. Os militares também foram obrigados. Idem todas as crianças com menos de seis meses. 

Aí entra em cena aquele povinho que gosta de agitar e tumultuar as coisas. Logo estava de boca em boca que a tal vacina ou matava ou aleijava. Ou seja, os males causados pele varíola eram atribuídos ao remédio. O mínimo de mal que a vacina causaria era deixar a pessoa com “cara de bezerro”. 

Congressistas usavam a tribuna para atacar o médico, para inventar coisas. Chegou-se ao absurdo de dizer que a vacina era feita com o sangue dos ratos comprados. 

Fizeram um inferno e o pau quebrou. A maioria da população não aceitava a exigência e se rebelou. Foi a chamada Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz não cedeu. Aguentou firme. Enfrentou e endureceu o jogo. Como os que eram vacinados não apresentaram as reações alardeadas, aos poucos os revoltosos foram cedendo, até que se entregaram de vez.

Hoje, a preocupação é a de que a varíola, a exemplo do que já se dá com o dengue e a febre amarela, volte a nos atormentar.  O culpado do que aí está todo mundo sabe: o tal do Fernando Collor, que acabou com a SUCAM.    


P. S. - Na época da revolta, a febre amarela matou um goiano ilustre. Trata-se de Antônio Amaro da Silva Canedo, o Senador Canedo, que representou o Estado de Goiás na Primeira República, a chamada República Velha. 

Prendam Collor, o "pai" da nova febre amarela



Ano de 1903, Rio de Janeiro, a Capital da República. De maravilhosa, ainda, a cidade não tinha nada. Era fedida, pestilenta. Chamavam-na, isto sim, de túmulo de estrangeiros, tantas eram as doenças contagiosas que ali proliferavam, castigando os seus habitantes e quem a visitava.   

Tal imagem não era nada boa para a nossa cidade sede do Governo, centro de negócios e alvo das atenções dos investidores estrangeiros. Era preciso dar um jeito urgente naquela tétrica situação. Foi quando o presidente Rodrigues Alves convidou o sanitarista Oswaldo Cruz para comandar o que seria hoje o nosso Ministério de Saúde. 

Formado aqui, mas graduado no Exterior, o nosso doutor arregaçou as mangas e, em menos de uma semana, já tinha um plano de combate ao inimigo imediato: a febre amarela. Esta é uma doença causada por um vírus que ataca o fígado e é transmitida ao homem por mosquitos, como o aedes aegypti. Amarela porque deixa as pessoas amareladas.

O nosso herói começou por identificar os doentes e acabar com os focos da doença. Para isso, estruturou a campanha em moldes militares, dividindo a cidade em 10 distritos sanitários, cada qual chefiado por um delegado de saúde. Além da polícia sanitária, formou brigadas de mata-mosquitos que, uniformizadas, tinham o poder de entrar nas casas. Foi uma verdadeira operação de guerra.

Em tal época não tínhamos, ainda, emissoras de rádio e TV. Os jornais, ao invés de auxiliá-lo, pelo contrário, preferiram atacar a sua reputação com duras críticas e maliciosas gozações. Pasmem, amigos. Na própria faculdade de medicina os nossos “sábios doutores” achavam uma maluquice de Osvaldo Cruz atribuir a um mosquito a transmissão da febre amarela. Acreditava-se que a maioria das doenças era provocada pelo contato com roupas, suor, sangue e outras secreções dos doentes. 

Todo mundo quebrou a cara. A campanha surtiu efeito e os casos foram diminuindo, até desaparecerem. Cruz pediu ao presidente que mantivesse nos quadros da saúde todo o pessoal dos distritos e das brigadas sanitárias, com a missão de inspecionar a existência de fontes causadoras de focos. 

Dessas brigadas resultou a nossa SUCAM, infelizmente extinta pelo inconsequente presidente Fernando Collor, que transferiu a responsabilidade para os municípios, mas não os recursos e nem os funcionários já qualificados para a tarefa.

É preciso descobrir uma saída jurídica de molde a processar tal irresponsável e botá-lo na cadeia. A febre amarela, a exemplo do dengue, está de volta e matando. Prendam este filaucioso. A culpa é dele.